Há duas pessoas disputando o corpo de Fiuk - e não estamos falando de nenhuma mulher. Uma delas é o cara de 21 anos que chegou à sessão de fotos da Gloss com ar desencanado, vestindo jeans, camisa xadrez por cima da camiseta, tênis surrado e boné. É quem você enxerga quando olha as imagens que ilustram esta reportagem - ou quando vê Fiuk interpretar Agenor, o cafajeste com jeito de menino em Aquele Beijo, a novela global das 7. O outro é um sujeito mais maduro, mais centrado e mais profundo que toma a frente sempre que o primeiro dá espaço - mas que só aparece pra quem está disposto a percebê-lo. Passar algumas horas ao lado de Filipe Kartalian Ayrosa Galvão, é observar uma negociação silenciosa entre os dois.
A ansiedade e a inquietude aparentes são do primeiro, mas o ritmo da fala mansa é do segundo. Vez ou outra, Fiuk (Fíííuk, com bastante ênfase no "i" - e não no "u") deixa um palavrão escapar. É coisa do seu lado menino ou do seu lado homem? Ele não se preocupa em entender - já aprendeu a deixá-los conviver e aproveitar o melhor de cada um. "Não encano, me deixo levar na boa. É assim que me encontro", diz, com vocabulário de quem não está nem aí (mas atitude de quem se importa, sim).
Fiuk tem a energia de um jovem ambicioso desses que não se contentam com uma coisa só. Quer ser ator, mas não quer deixar de ser cantor. Saiu da sua banda de rock Hori, mas já emendou uma carreira solo - o primeiro CD, Sou Eu, chegou às lojas em dezembro. "Não estou satisfeito com o que tenho e sou hoje. Nunca estou", diz. "Quero ser muito bom em tudo o que faço." Mas também mostra a maturidade de quem já concluiu que correr demais só vai fazê-lo atropelar a si mesmo. O hábito de prestar atenção ao que os outros dizem é uma aquisição recente, que veio junto com essa percepção. "As pessoas têm tanta pressa de tudo. É um estado constante de afobamento que me sufoca", diz. "Preciso cair fora disso."
Atrás do Pai
Não foi observando o pai, o também cantor e ator Fábio Jr., que ele aprendeu tudo isso. Suas muitas madrastas famosas (como as atrizes Guilhermina Guinle e Patricia de Sabrit) ou a meio-irmã Cleo Pires também não ajudaram. "Não cresci no meio de pessoas famosas. Isso é uma ilusão!", diz ele que foi criado pela mãe, a artista plástica Cristina Kartalian. Foi ela quem insistiu para que ele estudasse música aos 8 anos, e lhe de a primeira guitarra. "Meu pai mesmo não me passou nada. Não me estimulou, não me ajudou a entrar nesse ramo", diz. "Ele foi muito ausente."
Se os dois hoje têm uma relação próxima, foi por iniciativa de Fiuk. Aos 13 anos, ele arrumou as malas, saiu da casa da mãe e bate na porta de Fábio. "Eu disse que tinha chegado pra ficar, que queria a sensação de ter um pai presente", conta. Ele inclina o corpo para a frente para falar do assunto, mas mantém o olhar e o tom de voz firmes - não há ressentimento no que diz. O jeito teimoso e focado que se orgulha de ter hoje é um pouco consequência do comportamento distante do pai, acredita. "A rigidez e a seriedade dele me obrigaram a traçar meu próprio caminho sozinho." E a convivência acabou apagando qualquer mágoa que poderia existir. "Morar com ele deu tão cero que continuo lá até hoje. O cara virou meu herói!"
A ausência com que ele lida hoje não é mais a do pai - mas do resto da família e dos amigos. Ter pouco tempo para a vida pessoal é uma das consequências de querer levar duas carreiras ao mesmo tempo. Apesar de viver rodeado de colegas de elenco, seguranças e assessores de imprensa, Fiuk diz que está quase sempre se sentindo sozinho. "Tem horas que eu acho que vou pirar, que minha cabeça, não vai aguentar."
Nesses momentos, o lado maduro bem que tenta manter o profissionalismo, mas o lado garoto pede colo. "Sinto falta de todo mundo. Não gosto de ficar sem ter alguém pra ligar, para dormir junto..." Será que é por isso que ele tem fama de pegador? "Talvez", responde, rindo. "Eu sou assim. O cara que quer toda noite!", brinca fazendo um trocadilho com o primeiro single de seu CD, Quero Toda Noite, um dueto com Jorge Ben Jor.
Pegador, eu?
Quem inspirou a música foi a estilista Natália Frascino, 28, com quem Fiuk namora há quatro anos (com exceção dos quatro meses em que ficaram separados, ano passado). "Mas, se estivesse solteiro continuaria na pedação. Sou carente, preciso de companhia", diz. O Fiuk menino não faz planos para o longo do prazo. Então a vontade de se casar e ter filhos - ainda que seja "daqui a oito anos" - deve ser coisa do Fiuk homem... Mas será que ele é um cara de um casamento só? "Geneticamente, não, né?" brinca. "Mas quero pelo menos me casar acreditando que sim!", finaliza, com certeza de que quem já viveu um tanto e a leveza de quem tem muito para experimentar.
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